Acordo trará 50 ararinhas ao Brasil
Aves nascidas em cativeiro no exterior serão usadas para repovoar a Caatinga com a espécie, considerada extinta na natureza desde 2000
Herton Escobar, O Estado de S.Paulo - 24 Junho 2018 | 03h00
Ararinha azul (Cyanopsitta spixii) Fonte: wikipedia |
SÃO PAULO - A saga de reintrodução da ararinha-azul na caatinga brasileira vai começar com uma travessia atlântica. Cinquenta aves da espécie – extinta na natureza há quase duas décadas – deverão migrar em breve da Alemanha para o Brasil, para compor a população que vai repovoar o sertão baiano com essas simpáticas araras a partir de 2019.
O acordo para que isso aconteça deverá ser assinado amanhã pelo ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, numa reunião na Bélgica, onde estão quatro das 158 ararinhas-azuis existentes hoje no mundo – todas elas em cativeiro.
“Estamos cada vez mais próximos do momento de elas chegarem em casa”, disse ao Estado Ugo Vercillo, diretor do Departamento de Conservação e Manejo de Espécies do Ministério do Meio Ambiente.
(Continua a leitura abaixo) Clique em "Mais informações »"
(Continua a leitura abaixo) Clique em "Mais informações »"
Descoberta no início do século 19 pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix, e exclusiva da caatinga brasileira, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) teve sua população dizimada pela captura e tráfico de animais silvestres. O último exemplar conhecido na natureza desapareceu em outubro de 2000, e até hoje não se sabe se morreu ou foi capturado por alguém.
Duas unidades de conservação foram criadas para apoiar a reintrodução da ararinha-azul no País Fonte: ICMbio |
Desde então, os poucos exemplares que restaram em coleções particulares vêm sendo usados para reproduzir a espécie em cativeiro. Quase todos no exterior.
Naturalmente rara, a “spix” só existia originalmente numa pequena região do interior de Juazeiro e Curaçá, no norte da Bahia, onde o governo federal criou no início deste mês duas unidades de conservação: o Refúgio de Vida Silvestre e a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-Azul, destinadas à reintrodução e proteção da espécie. Um centro de reprodução será construído no local para receber as 50 araras da Alemanha e produzir os filhotes que serão liberados na natureza.
A transferência das aves deve ocorrer no primeiro trimestre de 2019 – uma vez que o centro estiver pronto – e as primeiras solturas poderão ser feitas a partir daí. “Até 2022 esperamos ter a ararinha-azul reintroduzida com sucesso na natureza”, diz a veterinária Camile Lugarini, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e responsável pelo Plano de Ação Nacional para Conservação da Ararinha-Azul.
Será um processo cauteloso. As primeiras solturas serão feitas em conjunto com maracanãs (Primolius maracana), uma outra espécie, com hábitos semelhantes aos da ararinha – ambas, por exemplo, utilizam ocos de caraibeira (ipê-amarelo) para fazer seus ninhos. Antes de desaparecer, o último macho de “spix” chegou a formar par com uma fêmea de maracanã.
Pesquisadores do ICMBio, em parceria com a população local, vêm estudando o comportamento das maracanãs para aprender mais sobre a espécie e, com base nisso, planejar a liberação e o monitoramento das ararinhas que estão por vir.
“Acredito que muito do que estamos aprendendo com as maracanãs servirá para a ararinha-azul”, aposta Camile.
A criação das áreas protegidas era essencial, mas ainda é necessário arrumar a casa para receber as araras, ressalta ela. A paisagem é muito impactada pela criação de cabras, que interferem com a cobertura vegetal da qual as aves dependem para fazer seus ninhos e se alimentar.
Esperança
As 50 aves que virão ao Brasil estão sob a guarda da Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP), uma organização privada sem fins lucrativos que hoje mantém 90% das ararinhas-azuis em cativeiro do mundo – após o fechamento de uma instituição no Catar, que transferiu seu plantel para Berlim no início deste ano.
“É uma responsabilidade enorme”, disse ao Estado Martin Guth, presidente da ACTP, que pagará pelo novo centro de criação e reprodução na Bahia.
Produzir as aves não será problema, garante o diretor científico da associação, Cromwell Purchase, que está ansioso para iniciar a reintrodução. “Todas as peças estão começando a se encaixar, do jeito que a gente sonhava. É fantástico."
Fonte: